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Home Música Lendo nas entrelinhas Não chore mais (pagina in italiano)
 

 

Não chore mais (a)

de Gilberto Gil

Em que eu me lembro (b)
A gente sentado ali,
Na grama do Aterro (c) sob o sol,
Observando hipócritas
Disfarçados, rondando ao redor (1).
Amigos presos, amigos sumindo assim
Pra nunca mais (2).
Tais recordações,
retratos do mal em si.
Melhor é deixar pra trás.
Não, não chore mais,
Não, não chore mais.

Em que eu me lembro
A gente sentado ali,
Na grama do Aterro sob o céu,
Observando estrelas
junto à fogueirinha de papel.
Quentar o frio,
requentar o pão
e comer com você.

Os pés, de manhã, pisar o chão.
Eu sei a barra (d) de viver (3).

Mas se Deus quiser
Tudo, tudo, tudo vai dar pé (e),
Tudo, tudo, tudo vai dar pé,
Tudo, tudo, tudo vai dar pé,
Tudo, tudo, tudo vai dar pé.
Não, não chore mais,
Não, não chore mais.

 

Comentários gerais:

(a) versão de No woman, no cry de B. Vincent
(b) construção pouco comum. Para mencionar algo de que se lembre utiliza-se mais comumente a construção "Que eu me lembre ..."
(c) possível referência ao Aterro do Flamengo, área verde e ponto de recreação no bairro do Flamengo, no Rio.
(d) quando uma situação está difícil de ser suportada diz-se que "a barra está pesada". Com a sua intensa utilização, a mensagem hoje é compreendida simplesmente dizendo-se "está uma barra" ou apenas mencionando-se "a barra". Contrariamente pode-se dizer "a barra está limpa" para significar que um ambiente está livre de forças adversárias.
(e) quando se entra no mar ou num rio ou lagoa, diz-se que está "dando pé" quando se pode ficar em pé e manter a cabeça para fora da água. Cotidianamente, quando se diz que uma situação "dá pé", significa que pode ser enfrentada com alguma facilidade.

Comentários políticos:

(1) Na época havia muito "patrulhamento ideológico". Além da censura oficial, havia o medo, o terror imposto pelo regime, que fazia com que a sociedade quase que em bloco rejeitasse coisas "perigosas" ou que pudessem "causar problemas".
(2) Alusão clara às prisões indiscriminadas e sumiço de pessoas com alguma liderança e que fossem contrárias ao regime.
(3) Apesar da mensagem otimista dos versos anteriores, aqui a volta à realidade (por os pés no chão) é encarada e vista com toda a sua carga de dificuldades (barra). É que havia também um "patrulhamento ideológico" da esquerda, que via mensagens de otimismo deste tipo como alienação ou desmobilização das massas.

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