O Ponto de Encontro - Banner
Home Música Lendo nas entrelinhas O mestre-sala dos mares (pagina in italiano)
 

 

O mestre-sala (a) dos mares (1)

de João Bosco / Aldir Blanc

 

Há muito tempo nas águas da Guanabara (b)
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas (2)
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas, (3)
Jovens polacas (c)
E por batalhões de mulatas (4)

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas (5)
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro
Gritava então:
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias (6)
Glória à farofa (d), à cachaça (e), às baleias
Glória a todas as lutas inglórias (7)
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais (11)
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo...


Comentários gerais:

(a) Mestre-sala é o par da porta-bandeira nos desfiles de escola de samba.
(b) Nome de origem indigena para a baía e para a cidade, que hoje se chama Rio de Janeiro. O nome Guanabara durou até quando a cidade era capital do país.
(c) Chamamos polacas de maneira um tanto genérica às mulheres de aspecto nórdico.
(d) A farofa é um alimento popular, típica alimntação de pobre. Ovos mexidos com farinha de mandioca, talvez acompanhados de carne e/ ou bacon picadinhos.
(e) A cachaça é um destilado popular feito da cana-de-açúcar. A cachaça está para o Brasil como o whisky está para a Escócia.

Comentários políticos:

(1) Referência ao marinheiro João Cândido, que no início do século 20 comandou uma revolta na Baía da Guanabara (então capital da república) para abolir os açoites como castigo na marinha.
(2) O marinheiro manobrou os navios tomados na baía, apontando os canhões para o palácio do governo. Suas manobras perfeitas são comparadas a regatas.
(3) Menciona o apoio internacional à Revolta da Armada.
(4) Menciona o apoio popular à Revolta da Armada.
(5) Menciona os castigos corporais então vigentes na Marinha.
(6) Glorificação da insubordinação, do povo e do sonho.
(7) A Revolta da Armada foi uma luta inglória, pois terminou com um acordo não cumprido pelo comando da Marinha. O marinheiro entregou o comando dos navios sob a promessa de serem extintos os castigos corporais e os revoltosos não serem punidos. Nenhuma das duas coisas aconteceu.
(8) A Marinha não homenageia seu herói mais popular. Oficialmente ele é ignorado.

Voltar à página principal (em português) | Tornare alla pagina principale (in italiano)
Para sugerir um site | Colaborar
Contato | Forum