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Por Alberto e Anna

Refugos

Cabo Verde, dezembro 2006

São PedroNão é mistério para ninguém que o terceiro mundo seja considerado a lixeira dos países mais desenvolvidos do mundo. Dentre os últimos acontecimentos mais notáveis, apresenta-se-nos o caso do porta-aviões Clemenceau em viagem para a Índia para ser desmontado. Só a grita da opinião pública francesa e das associações ambientalistas, que denunciaram a quantidade de amianto contida no navio, lograram provocar uma reação do governo indiano, que impediu o navio de entrar em suas águas territoriais. Somente a intervenção de Chirac evitou que o evento assumisse uma notoriedade lesiva à imagem da França. Outro evento de inaudita gravidade é aquele dos rejeitos tóxicos despejados por um navio, afretado para esse fim, na lixeira a céu aberto de Abidjan (Costa do Marfim). A proeza resultou em dez mortos e mais de duzentos intoxicados que tiveram que recorrer a socorros médicos.

Fatos gravíssimos, pontas de icebergs de ignotas dimensões que, quando reveladas enchem as páginas dos jornais e sacodem (ou deveriam sacudir) a opinião pública. Escapa, porém, a toda estatística, a todo conhecimento de massa, a toda análise econômica e social, a movimentação entre o mundo civilizado e o terceiro mundo de um outro tipo de refugo: os refugos humanos. Todo ano milhares de indivíduos que o nosso mundo ocidental rejeita: fracassados, aventureiros, pedófilos, ou simplesmente inúteis do ponto de vista comercial e financeiro, dirigem-se para o terceiro mundo no ânimo de "refazer a vida" ou de poderem viver "fora das regras civilizadas". Cabo Verde não é exceção e, naturalmente sem generalizar, acolhe em fluxo contínuo: construtores que jamais construíram algo, empreendedores sem capital, porque falidos na própria pátria; agentes imobiliários e hoteleiros sem qualquer experiência no setor; restaurateurs que jamais cozinharam sequer um ovo frito.

Até este ponto, estamos no limite da inconsciência, da presunção amparada pelo racismo, da convicção de que a superioridade de "ser branco" possa compensar a consciência e a experiência. Têm-se aí situações penosas que, quase sempre, terminam em insucesso devido à incapacidade de tal tipo de ter um mínimo de contacto com a sociedade do lugar. A vida de tais aventureiros torna-se difícil, insuportável. Se têm consigo a família, esta se desmantela. Estão prontos para uma outra aventura, dessa vez mais longe (o Brasil?) e para um novo insucesso.

Diverso e mais grave é o problema de outros marginais humanos: aqueles que o mundo ocidental não quer, não obstante os tenha de alguma forma gerado. Trata-se dos que vêm a Cabo Verde não para refazerem a vida (talvez nas costas dos outros), mas porque esse país lhes permite, pensam, viver à margem da sociedade. De hábito (mas nem sempre -- as duas categorias freqüentemente se interpenetram) trata-se de pessoas abastadas, de aposentados, de gente de proventos dúbios. Vivem uma vida de ócio, reunindo-se em pequena comunidade, completamente fora do contexto local, falando de raparigas, de trinta a quarenta anos mais jovens que eles, conquistadas a golpes de Viagra e de euro. O pedófilo está mais à parte, mas não muito. Todos sabem, mas ninguém fala. Só quando, raramente, assoma às honras do noticiário, só então se descobre que todos sabiam, mas ninguém havia falado, em nome de uma solidariedade de classe, ou melhor, de raça.

A cocaína é, porém, um fenômeno recente, bastante novo, derivado da insatisfação das expectativas não preenchidas, da desilusão do Paraíso Terrestre não encontrado e inclui atualmente uma boa parte da nossa comunidade estrangeira.
Esses são os problemas. A solução? Mais simples, ao menos no papel.

Cabo Verde tem um clima maravilhoso, uma democracia que razoavelmente funciona, não há tensão de tipo social e religioso, é um país ideal para se viver. Não o deixemos nas mãos de aventureiros. Há na Itália (e em Europa em geral) uma multidão de pessoas honestas que são, presentemente, em relação à idade, completamente inúteis para o sistema produtivo. São pessoas que provavelmente poderiam viver em Cabo Verde com o dinheiro que gastam anualmente com aquecimento e condomínio.
São ainda jovens, com instrução e competência, desejosos simplesmente de fazer novas experiências e de contribuir para o desenvolvimento de um país maravilhoso.

A elas dirigimos este convite. Venham ver este país. Não o deixemos em mãos de gente sem escrúpulos. Demonstremos aos habitantes de Cabo Verde que nós também temos algo de bom a exportar e não apenas refugos.

P.S. Tratando-se aqui de um artigo que exprime juízos bastante pesados, impõe-se precisar que não é absolutamente nossa intenção generalizar, mas apenas evidenciar um problema que está assumindo dimensões preocupantes. (trad. Celso Carneiro)

Morrer de dor de barriga

Cabo Verde, novembro 2006

Não é justo morrer “de dor de barriga” aos dezessete anos. Vivemos em um país cuja Assistência Sanitária é tida como avançada nos padrões africanos, mesmo assim em Cabo Verde se morre “de dor de barriga”. Um rapaz vivia exatamente em frente a nós com sua família. Manifestando dores abdominais foi internado em um hospital de Praia que está a doze quilômetros de distância. No dia seguinte estava morto.

Ignoramos o que está escrito no laudo médico. Cabo Verde não dispõe de Instituto Médico Legal para fazer uma autópsia. Está morto. Ele tinha dores abdominais e agora já não faz mais parte deste mundo. As pessoas, os familiares, os amigos, todo o vilarejo organizam o velório, a comida a quem vier apresentar as condolências. Lembrar-se-ão dele com uma missa daqui a uma semana, um mês e no próximo ano. As mulheres da família vestirão luto pelo mesmo período de acordo com os laços familiares.

Troquemos de ilha. Passemos a Santiago em Fogo. Há anos existe na ilha do Vulcão uma estrutura hospitalar construída com a Cooperação Italiana utilizando grande quantia de recursos. Ao estado atual serve, sobretudo, como local de férias para doutores especialistas que vêm passar quinze dias de férias em troca de serviço humanitário. Um especialista por turno. Pouco importa que o hospital não tenha os instrumentos específicos para aquela especialidade e nem tenha, talvez, para outras. Os médicos (os mais sérios e críticos) lamentam que na estrutura a população não se apresente, mas somente algum político ou cidadão abastado (ou estrangeiro) para intervenções programadas.

Se vocês perguntassem à população porque não aproveitam a presença de um dentista especialista lhes responderiam que não faz sentido gastar vinte euros (quatro dias de salário) para a extirpação de um dente que pode ser obtida gratuitamente no ambulatório público.
 
Perguntar-se porque aquela estrutura foi feita em Fogo (menos de quarenta mil habitantes) e não a Santiago (duzentos e quarenta mil) pouco adiantaria. Menos ainda serviria perguntar porque ninguém pensou em equipar Cabo Verde com um helicóptero para os casos de emergência. Programar a presença da equipe médica especializada nos hospitais já existentes? Colocar convenientemente os nossos doutores em contato direto com uma realidade desconhecida? Serviria? Talvez sim. (trad. Silvana Ermani Visnardi)

Sustentável

Cabo Verde, outoubro 2006

“Sustentável“ é a palavra de ordem, usada (e abusada) pela totalidade dos políticos caboverdianos, sejam eles do governo ou da oposição. Juntamente com a cerimônia da “pedra fundamental” – que nos faz lembrar de outros tempos – a palavra “sustentável” aparece em todas as ocasiões. Estampada na televisão, na rádio, nos discursos das pessoas que desejam demonstrar uma cultura e informação que, comumente, não têm. Sustentável às vezes pode ser a economia, o relacionamento bilateral com outro país, uma obra pública ou qualquer outra coisa mas deve ser, sempre, o “desenvolvimento”. O desenvolvimento, escrito, falado, discutido, em Cabo Verde o encontraremos sempre na forma “Desenvolvimento Sustentável”. A locução é utilizada para referir-se ao tipo de desenvolvimento atualmente conhecido no país e que nós chamaremos simplesmente – e mais sinceramente – de “uma selvagem especulação turístico-imobiliária-comercial e, sobretudo, estrangeira”.

No início dos anos 90, um visionário empreendedor bresciano e um par de operadores portugueses começaram a investir em Cabo Verde, construindo estruturas e vilas turísticas na ilha de Sal. Quem, como eu, esteve pela primeira vez em Sal naquele período, lembra que em Santa Maria havia apenas um hotel e que a cidadezinha tinha um aspecto decadente e sonolento. Hoje tudo mudou. Existem muitos hotéis que surgem em um ritmo que torna difícil contá‑los. Também as casa de veraneio continuam a serem construídas em grande número e em pouquíssimo tempo. Tornar a Santa Maria, após um ano, significa dizer que não a reconhecerá mais. A pouco mais de um ano, quase toda a atividade turística e imobiliária estavam em mãos italianas, pelo que, em Sal se falava mais italiano que Crioulo e o euro era a moeda corrente. Hoje nada mudou, mas novos investimentos espanhóis, irlandeses e, logicamente, caboverdianos, poderiam em breve, deixar um pouco mais heterogênea a ocasional população.

Boavista se encaminha rapidamente na mesma estrada de Sal. Por anos hospedou casuais, ou iluminados, pequenos construtores. Depois, a notícia de que se abriria um aeroporto internacional na ilha e a construção de um grande Resort (italiano – o maior resort da África Ocidental como canta a propaganda) deu início a uma especulação mais selvagem e, rapidamente, a um fluxo improvisado de numerosos italianos em busca de uma pequena fatia de riqueza. Atualmente, o aeroporto não foi aberto e, provavelmente, não será ainda por muitos meses, mas a psicose de massa não diminui. Os empreendedores italianos (poucos) e os pseudo-empreendedores oportunistas (muitos) continuam chegando. Em poucos anos, daquela que foi (e é) talvez, a mais bonita ilha do arquipélago, restará realmente muito pouco. Recentemente, até as velhas barracas em que viviam os operários das construções (em sua maioria, emigrantes das ilhas vizinhas), foram levadas ao chão. Manchavam a imagem paradisíaca que o turista deve ter nos curtos períodos em que consegue colocar o nariz fora dos resorts e hotéis.

Em nossa opinião, maio não terá o mesmo tipo de desenvolvimento. Ali também chegaram os construtores italianos e, (com notáveis exceções), os italianos que moram ali vivem, voluntariamente, em um gueto intelectual e social que os leva a evitarem um contato estável com a população. Visto que a ilha é pequena e que parece impossível que se projete um quinto aeroporto internacional, maio permanecerá uma ilha de casa de veraneio, desabitadas por onze meses ao ano e alugadas esporadicamente a algum turista de passagem.

Ao contrário, o quarto aeroporto internacional, depois dos de Sal e Praia – já em funcionamento – e do de Boavista, deverá surgir em São Vicente. Ali também a especulação imobiliária juntou-se àquela dos poucos e grandes hotéis já existentes. Fazem parte disso, os indispensáveis italianos, algumas sociedades inglesas e, incrivelmente, uma sociedade árabe de Dubai que investirá 500 milhões de euros na construção de um projeto “Ceasaria Resort” em uma área de 1.300 hectares.

O quadro é desolador: muitos caboverdianos o acham excitante. Mas, onde o desenvolvimento encontra o seu máximo de “sustentabilidade” é em Santiago – a ilha que sedia a capital: Praia. Sem mais, se trata assim da maior ilha, além de ser também a mais variada. Existem poucas praias de areias douradas, mas a diversidade de paisagens faz dali, um destino de primeira ordem para um turista interessado em conhecer a verdadeira Cabo Verde. Às margens da praia mais bonita da ilha (S. Francisco) foram os ingleses que construíram uma vila turística e uma série de construções bem ambientadas. Nas proximidades da Cidade Velha (antiga capital e praticamente o único lugar histórico de Cabo Verde), estão surgindo estruturas particulares construídas diretamente sobre o mar, fora das distâncias que devem ser respeitadas – e que estão previstas na lei caboverdiana.

Mas é em Praia que teremos a última e definitiva prova do que significa “sustentável” no vocabulário dos políticos caboverdianos. Em frente ao porto, surge uma minúscula ilhota, o Ilhéu de Stª. Maria, sobre o qual David Chow, empresário chinês de Macau e Cônsul Honorário de Cabo Verde em seu país, construirá um hotel de luxo e um casino. O projeto, que prevê a aplicação de cerca de 100milhões de dólares, transformará completamente o litoral antes existente, criando um ambiente acolhedor acompanhado de estruturas de alto nível. Provavelmente, os caboverdianos não terão acesso a estas estruturas (o que já acontece em outras) mas, seguramente, terão uma clientela poderosa, permitindo-se os jogos de azar, lavagem de dinheiro, prostituição e outras especulações imobiliárias no litoral.

Alguém arriscou observar que o ilhéu de Stª. Maria, baseado em uma lei dos anos 90 e outra de 2003, tinha sido classificado como Reserva Natural e, portanto, inalienável. Sem problema: em 19 de maio de 2006, o conselho de ministros “desclassificou” a ilhota como Reserva Natural e o projeto se transformou, improvisa e imediatamente, possível.
Alguém, da mídia de massa da oposição, fez notar que, mesmo não sendo mais Reserva Natural, Ihéu continua sendo Área Protegida porém, ninguém mais tem ilusões. Como se vê, o projeto transformou-se em “sustentável”!! (trad. Dea Maciel)

 

A ilusão do Microcrédito

Cabo Verde, julho 2006

Decididamente uma boa idéia. Poderíamos defini-la assim: "fornecer uma pequena quantidade de dinheiro às pessoas que, enquanto pobres e privas de garantias patrimoniais, não podem ter acesso ao tradicional sistema bancário". Este dinheiro permitirá aos beneficiários criar ou incrementar uma atividade econômica, sustentar-se e sustentar a própria família e devolver rapidamente o empréstimo recebido. Parece uma fábula, não? Uma bela fábula com final feliz.

Nós acreditamos (ou fingimos acreditar) por anos, até que, vivendo em um mundo diferente daquele no qual nascemos, decidimos nos aprofundar no assunto. A oportunidade apareceu lendo uma revista caboverdiana que trata amplamente do tema e que, após ter citado que, em 1998, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou 2005 Ano Internacional do Microcrédito, noticia um congresso realizado em Praia com a participação das Associações Caboverdianas que operam na área de Microfinanças.

Após as saudações obrigatórias (o "como somos bons", para entendermo-nos) é elencado um certo número de dados entre os quais se destaca: "as taxas de juros praticadas vão de 10% a 36% anuais". Pensamos imediatamente em um erro e decidimos nos aprofundar. Não é assim. Os dados são exatos para Cabo Verde, enquanto em outros lugares, no mundo, atingem picos de 54% anuais.

ONG (Organizações Não Governamentais) que praticam a usura? A explicação é mais simples e, definida de acordo com a linguagem e os cânones do livre mercado, diz mais ou menos o seguinte: "quem pratica Microcrédito deve tornar a própria atividade autosustentável, portanto os supostos prejuízos deverão ser compensados por juros elevados", e ainda "não confundamos a prática de Microcrédito com outras atividades benéficas a fundo perdido".

Considerável mas, também neste caso, como em outros, ninguém pensou em dar uma olhada nos salários oferecidos aos funcionários das organizações não-governamentais do Microcrédito. Neste caso não veio à mente de ninguém (regra de ouro do mundo capitalista) que a uma redução dos lucros se pode opor uma diminuição dos custos fixos, como os de pessoal. Além disso, como alguém observou, não seria eticamente e racionalmente viável propor que o capital fosse restituído integralmente, mas que as ONG's se encarregassem dos juros (e por conseguinte o mundo rico e benfeitor)?

Uma vez mais algo não se enquadra nos mecanismos da Cooperação. Mais uma vez nos perguntamos até que ponto haja falta de preparação e até que ponto exista má-fé.

Agrada-nos terminar este artigo citando a história de Adelina, que recebeu 25.000 escudos (menos de 250 euros) para incrementar sua banca de bananas e maçãs no mercado de Praia. Graças a este financiamento, diz o jornal, conseguiu não só melhorar a própria atividade, como também adquirir uma nova banca, de venda ambulante de peças íntimas e produtos de higiene. Como terminará a fábula de Adelina?

Nós, uma vez especialistas do setor (foi nosso trabalho por décadas), sabemos que o encargo sobre os produtos deve ser ao menos superior aos ônus financeiros. Em poucas palavras, o ganho de Adelina deve superar os juros que paga. No caso de Adelina, comprando fruta de véspera e artigos de chineses, o encargo não chega a cobrir os juros. Adelina (esperamos errar) não poderá devolver o empréstimo. A'ONG sofrerá um novo prejuízo, que compensará imediatamente aumentando as taxas de juros sobre os empréstimos futuros.

No entanto, o funcionário da ONG terá tido um pequeno aumento, que o compensará pela inflacão e viajará pelo País com uma caminhonete de última geração (nunca viram vetustos carros em dotação da Cooperação Internacional?). E a vida continua…(trad. Tatiana de Toledo Buff)

freccia Para aprofundar o tema:
http://unimondo.oneworld.net/article/view/62693/1/4599
http://www.terrelibere.it/counter.php?riga=99&file=microcredito.htm

 

Branku - Bianco

Cabo Verde, junho 2006

Após vivermos cinco anos em Cabo Verde permitimo-nos algumas considerações sobre o argumento. Pensávamos, depois de dezenas de viagens a passeio pelo mundo de já sermos capazes de compreender e, de alguma forma, de exorcizar um fenômeno que, tendo como pretexto a cor da pele, provoca desigualdade e incompreensão entre pessoas de origens diversas. Devíamos ao contrário permanecer nesta terra, desabitada desde o século quinze, para compreendermos melhor.

Cabo Verde quando foi descoberta (por volta de 1460) era desabitada. A população que dela se empossou sucessivamente foi o produto direto daquela infâmia que foi o tratamento dado aos escravos. Mas de tal fenômeno, que marcou a humanidade de uma maneira mais profunda do quanto normalmente se acha, não nos ocuparemos aqui. Ao contrário, nos bastará assinalar que a população de Cabo Verde é o produto da mistura de origens diversas: africanas e européias, brancas e negras, portuguesas, genovesas, mandinga, jalofos, wolof e outras.

A escravidão primeiro e a colonização depois, criaram o terreno fértil para este amálgama e para o nascimento de uma nova língua, mas, sobretudo de um Homem Novo: o Kriolu. Uma feliz mistura. Uma solução casual que deveria ter permitido ir, de um salto, além das barreiras raciais.

Infelizmente não foi assim. Hoje, em Cabo Verde a palavra "Branku" define não só o branco de pele mas, também o caboverdiano rico. Em um país onde aonde existe gente com a pele de todas as tonalidades, do negro ao albino, a Cor deixou de sê-la para tornar-se uma Definição Econômica e Social. Portanto Branco é bonito, Branco é rico, Branco é inteligente, Branco é instruído, o Branco sabe. E a conseqüência é um temor (frequentemente confuso por respeito), uma subalternalidade que o povo caboverdiano nutre nos confrontos dos "Branku" enquanto tal. A população, aquela que fala somente o Criolo, enquanto a língua oficial é o Português, sonha de poder um dia adquirir o status que lhes permitirá, muito além da cor da pele, ter um bem-estar superior, que lhes permitirá destacar-se da massa.

Basta observar os políticos, o comportamento deles, a condução das campanhas eleitorais, como se fossem cantores ou artistas de fama, com gastos inacreditáveis para um país que vive na indigência. Muitas vezes constatamos como, em Cabo Verde, os eleitores não elegem os seus representantes mas os seus "donos". Basta observar a bazófia e a freqüência com que circulam carros de todo o terreno caríssimos. Basta observar os emigrados quando retornam periodicamente à Pátria.

Sem querer generalizar, muitos falam e tratam os seus compatriotas, os seus familiares, com a suficiência de quem deste mundo subdesenvolvido não quer mais fazer parte. As acusações de indolência, incapacidade, falta de iniciativa, são disperdício. Não há muita diferença dentre os pontos de vista dos novos empreendedores brancos e europeus que invadiram o País a procura de novos serviços e do desfrute de mão de obra a baixo custo.

E o Caboverdiano se contenta em sobreviver. Primeiro escravo, depois colonizado por uma ditadura que lhes impôs privações maiores talvez que a escravidão e hoje sob um domínio de um poder bem mais forte e cruel: o econômico. Exercitando este novo poder, em perfeito acordo, estão os especuladores estrangeiros (os das construções e os turísticos), aqueles econômicos e financeiros e, bons últimos mas não por importância, os Caboverdianos que, de uma maneira mais ou menos legítima mas quase nunca ética, conseguiram sair da grande massa dos deserdados. Em uma palavra: os Branku! (trad. Patricia Viana)

 

Exercícios de guerra em Cabo Verde

Steadsfast Jaguar 2006 - Exercícios NATO (01/06/2006 - 12/07/2006)

Maio 2006, Cabo Verde

A menos que vocês não sejam apaixonados por "jogos de guerra" ou que não acreditem verdadeiramente que a guerra seja a solução para os problemas da humanidade,nós os aconselhamos a que fiquem longe de Cabo Verde no mês de junho e na primeira metade do mês de julho deste ano. Em teoria ficarão excluídos dos exercícios somente as ilhas de Boavista, Maio e Brava, mas (recordam-se de Ustica?) é muito melhor não se encontrarem em um avião em vôo, nos arredores, durante aquele período. Além disso, não será precisamente apaixonante ser obrigado a dividir a estrutura hoteleira e turística com militares certamente não propensos às boas maneiras e que, na ocasião, deverão "simular" comportamentos guerreiros.

Das notícias surgidas nos maiores jornais de Cabo Verde e nos seus sites , que se referem sobretudo a uma longa entrevista concedida pelo Ministro da Defesa de Cabo Verde e as declarações de vários responsáveis NATO nas operações, tomamos conhecimento que:

- "...o Comando Geral das Forças Armadas da NATO será localizado na cidade de Mindelo (S.Vicente)."

- "...os exercícios acontecerão entre junho e julho de 2006, nas ilhas de S.Vicente, Santo Antão, Sal, Santiago e Fogo..."

- "...A maior parte dos exercícios terá lugar nas primeiras semanas de junho, com a chegada das forças provenientes dos vários países da NATO, Europa e USA. A segunda fase, que vai de 14 a 28 de junho consiste nos exercícios propriamente ditos. O último dirá respeito ao retorno das forças militares às suas bases de origem e terá lugar de 28 de junho a 12 de julho."

- "...as ilhas de Santo Antão e São Vicente além de servirem à logística, acolherão os exercícios que abrangerão os componentes terra, mar e ar. Em Fogo serão desenvolvidos ações na área de evacuação humanitária. Em Santiago terão lugar essencialmente as atividades de comunicação e coordenação direta com as autoridades governamentais e militares. A ilha de Sal, onde se encontra o Aeroporto Internacional, funcionará como base para receber as aeronaves. Farão o sobrevôo dos mares, o movimento das aeronaves e o transporte entre as ilhas de cerca de seis mil soldados que participarão destas operações. "

- "... Os exercícios propriamente ditos terão lugar entre os dias 15 e 28 de junho. Os nossos aviões militares terão base em Sal, e teremos unidades terrestres que operarão em S. Vicente e Santo Antão,... Além das forças navais cujos exercícios acontecerão nas águas cabo-verdianas entre Sal, S. Vicente e Santo Amaro . Especificamente em São Vicente , além de um continente de 1200 homens, com um total de 7000 in todo o País, a Nato terá uma base logística onde estacionarão todas as unidades que apoiarão os exercícios, ´precisamente, entre outros, os equipamentos para o transporte, os serviços médicos, os equipamentos para a purificação da água, ou seja, tudo aquilo que serve de apoio aos soldados. Uma das atividades previstas acontecerá na Ilha de Fogo onde será levada a termo uma "Operação Humanitária Portuária", segundo o porta voz da Nato, que indicou que se tratará de " responder a um pedido de ajuda das autoridades cabo-verdianas para a evacuação da população em um cenário de erupção vulcânica", uma operação que não tem um tempo estabelecido para ser efetuada, mas que deverá acontecer " entre 23 e 27 de junho".

Sinceramente não conseguimos apreciar (se bem que acreditamos que não existam) os aspectos positivos de uma operação dessa espécie. Os negativos, sobre o turismo, são evidentes. Quem se encontrar em férias no "lugar errado" , naqueles dias, levará, de Cabo Verde, uma imagem bem estranha. (trad. Luci Augusto de Castro)

 

A hora "ilegal"

Abril 2006, Cabo Verde

Não amamos as viagens organizadas, as chamadas "tudo incluso". A vida toda tentamos ser viajantes e não turistas. Vimos diminuir o profissionalismo no setor turístico (como nos demais), desaparecer as agências de viagens gerenciadas por quem, com paixão, se desdobrava para procurar um vôo ou reservar um hotel para quem nos procurava. A viagem se tornou somente um "business" e o viajante virou mercadoria.

As características do país visitado perderam pouco a pouco a importância e, com o "turismo de massa", são um tipo de resorts : todas iguais no mundo todo, todas com cozinhas uniformes e padronizada, todas com "divertimentos" obrigados e obrigatórios. Os turistas, para nossa maravilha, também aceitaram a idéia da "pulseira" identificativa (rejeitado até pelos presidiários). Vimos economias inteiras, que poderiam ter prosperado com o turismo, paradas por proibições e medos divulgados pelos operadores turísticos para fazer com que o turista não saia do recinto dourado do Resort Turístico.

No "terceiro mundo", nos "paraísos tropicais" e agora também no nosso novo país adotivo (Cabo Verde) encontramos pessoas repentinamente transformadas, como que por encanto, em construtores, restauradores, hoteleiros (profissões das quais não conheciam nada até o dia anterior). Tudo "normal". Tudo visto de uma ótica de aproveitamento do turista que, não interessado no país que visita, sonha só com uma praia com sol e areia dourada. A Globalização e o Mercado justificam cada escolha, cada decisão.

Com a idade, aprendemos a aceitar também esta situação e, entre os operadores turísticos, fizemos uma "seleção" conseguindo identificar os (poucos) que uniam ao inevitável tornaconto (?), a eficiência e o respeito pelo ambiente. Talvez pecamos pelo otimismo.

A falta de sensibilidade, de respeito, poderemos dizer, (pelo país hóspede) de quem inventa uma hora de verão particular dentro de um Resort Turístico nos surpreende e nos rouba um amargo sorriso. Sim. Porque quem se aloja no mais recente MegaResort de Boavista deve fazer as contas com três horários diferentes. Praticamente são três fusos horários para lembrar:

- A hora italiana, na qual se deve pensar quando ligará para a Itália e quando pegará o vôo de volta;
- A hora caboverdiana (duas ou três horas antes, dependendo da estação) que servirá quando precisar chamar um táxi ou se dirigir à população local;
- E o Venta-Time: o "horário legal" válido somente no Resort (uma hora após a hora caboverdiana).

Difícil entender as razões de tal absurdo. Excluindo a priori um erro momentâneo dos vértices do Grupo, vamos em busca de uma explicação. Fazemos isso colocando-nos algumas perguntas: Economia de energia ? Necessidade de adequar os tempos e ritmos dos turistas à um programa ? Simples demonstração de "exclusividade" pretensiosa ?

Oras... confessemos que, uma vez feitas as perguntas, não encontramos nenhuma resposta plausível à uma "invenção" deste tipo. Provavelmente estamos ficando velhos... não estamos no mesmo passo do tempo... não entendemos nada de marketing moderno... O futuro cada vez menos nos pertence... (trad. Fabio Luiz Braggio)

 

Sanidade no exterior… ou seja…o otimismo do Viajante

Março 2006, Cabo Verde

Se todo viajante ou turista se pensasse na possibilidade de ficar doente durante uma viagem, só sairia de casa para visitar países "civilizados" e com um bom sistema sanitário.
São considerações que o turista mediano graças a Deus não faz, dando confiabilidade, na maioria das vezes enganosas e superficiais, aos seguros das operadoras de turismo no tocando a assistência in loco ou simplesmente não se pondo o problema.

Estas considerações explicam, em parte, porque a parte mais baixa da porcentagem de viajantes, entre aqueles que se dirigem ao terceiro mundo, é atribuída a médicos e operadores sanitários. Talvez somatizam o seu saber, transformando-o em mêdo.

Mas é ainda sobre Cabo Verde que queremos lhe falar. Deste país que está tentando atingir padrões elevados em todos os campos, inclusive aquele sanitário.

A situação atual resume-se conforme segue:

- Cabo Verde não possui estrutura sanitária comparável àquela standard européia; entretanto está bem longe daquela africana.
- Os únicos dois hospitais dignos deste nome são a Praia (Santiago) e a Mindelo (S. Vicente). Em todas as outras ilhas existe pelo menos um ambulatório médico.

Alguns conselhos para os "viajantes":

- com relação aos medicamentos aconselha-se levar consigo aqueles mais específicos, cuja necessidade se tem certeza.
- Aqueles genéricos são quase todos encontrados em farmácias. Pode ser útil conhecer os princípios ativos dos medicamentos genéricos, por serem produzidos in loco e com nomes diferentes.
- Os medicamentos homeopáticos não são encontrados.

Não é exigida nenhuma vacinação para quem chega da Europa. O risco de malária é praticamente inexistente. Os passageiros provenientes de Dakar (Senegal) deverão ter, no entanto, o Certificado Internacional de Vacinação contra Febre Amarela.
Como em toda viagem, é oportuna a cobertura anti-tífica e anti-tetânica.

Portanto, é evidente que atualmente esta situação, mesmo não sendo positiva, pode ser considerada melhor do que a situação de todos os outros países de metas turísticas "tropicais" ou "esóticas". Futuramente (a curto prazo) haverá um grande avanzo, pois Cabo Verde se dotará de estruturas sempre mais atualizadas e eficientes. Estão dando início aos trabalhos para o hospital de Sal e uma nova leva de médicos locais (formados em Cuba, em Portugal e no Brasil) está grat]dativamente substituindo e apoiando aqueles que através de Cooperativa, mesmo tendo feito algo de bom, também criaram inúteis "catedrais no deserto".
Che sirva de exemplo para todos o mais bem equipado hospital de Capo Verde (cuja a falta de médicos é uma constante) que a Cooperativa Italiana (Frades "Capucinos de Fossano") beneficamente fez construir sobre a ilha de Fogo, que conta com aproximadamente quarenta mil abitantes, e é praticamente inutilizado por todos os outros abitantes do arquipélago (quatrocentos mil). Este é o mundo da Cooperativa. Projetos mal feitos e a quilometros de distância do país que deveria se beneficiar… mas este é um outro assunto…

Será o próximo assunto a ser tratado. (trad. Anna Grazia Barbaro)

 

O melhor clima do mundo?

Fevereiro 2006, Cabo Verde

Média mensal em graus centígrados
Mês Ar Mar
Janeiro 24 22
Fevereiro 24 22
Março 25 22
Abril 26 23
Maio 26 23
Junho 26 23
Julho 28 25
Agosto 28 25
Setembro 28 25
Outubro 27 24
Novembro 26 24
Dezembro 24 22

Se perguntarmos a um caboverdiano quais são as riquezas de Cabo Verde ele nos responderá: "O clima e a paz". De fato, se realmente nenhuma guerra conseguiu chegar a este arquipélago, também é verdade que o clima de Cabo Verde é simplismente maravilhoso.

Isto é devido à reduzida umidade do ar que varia entre os 20% e os 60%. Lá, encontrar-se-á uma mistura de temperaturas tropicais e clima desértico que a influência marinha consegue casar de forma tão harmoniosa. A possibilidade dos banhos de mar em relação às temperaturas do ar e da água dura o ano inteiro. A diferença entre inverno e verão é dada unicamente pela passagem térmica entre dia e noite ( no verão a temperatura cai a 23° graus à noite, e no inverno a 21° - em algumas ilhas excepcionalmente a 18°).

O vento não escolhe estação. Em prática, não existe uma estação com mais ventos e outra com menos ventos. Uma ilha não é nada mais que uma embarcação (felizmente um pouco mais sólida) no meio do oceano. Portanto o vento existe; porém é mais uma brisa, como nas ilhas e nas zonas costeiras da Itália, algumas vezes forte, outras constante. Nas ilhas sem relevo, o vento às vezes mostra-se mais intenso; jamais frio. Com freqüência torna-se indispensável para suportar o sol nas horas diversas. Os alísios que sopram sempre e constantemente do nordeste, às vezes no inverno, passando mais ao sul, chegam diretamente pelo leste e, transitando pelo Sahara, carregam-se de ar quente e poeira. Outro mais, dizem com simplismo que o alísio se une ao Harmattan. É o fenômeno que os cabo verdianos chamam de "bruma seca" ( um tipo de neblina privada de umidade). Para escolher um período no qual se queira efetuar uma viagem, em prática o clima não influencia.

Estamos longe dos tempos em que Manuel Lopes* descrevia a chegada das chuvas ( ditas Azaguas em crioulo) desta maneira:

"…fronte contro fronte, come nemici fratelli, il monsone umido cede terreno alla spinta eccessiva dell'aliseo del nord. Solo quando questo si placa o dimentica il suo compito di pulire il cielo, cosa molto rara, solo allora l'umidità arriva dall'Atlantico del sud, invade l'atmosfera con la cautela di chi arriva dalla porta secondaria: arrivano le nuvole, si accastellano, si fanno pesanti, oscurano il sole. Negli strati superiori le gocce cominciano a gelare, i grani di gelo si ingrossano, perdono equilibrio, sono attratti dalla terra, cadono le prime gocce d'acqua, a volte nel mezzo di un turbinare di vento…"

Hoje, a vitória das monções é cada vez mais rara. Encontrando-se na faixa tropical norte, Cabo Verde tem, teoricamente, uma estação seca ( de outubro a maio) e uma de chuvas ( de junho a setembro). Mas só em teoria, pois em Cabo Verde chove pouquíssimo ( quem dera chovesse... dizem os cabo verdianos). (trad. Patricia Viana)

*a citação de M. Lopes foi retirada de: Hora di Bai - A. Sobrero - Argo - Lecce 1996

 

A mulher cabo-verdiana

Janeiro 2006, Cabo Verde

Inicia-se um novo ano. Também este será difícil para as pessoas do terceiro mundo, sempre mais esquecido, sempre mais deixado a sua sorte... Todavia, em um certo país, alguma coisa está mudando. Uma metade da população, as mulheres, até então reduzidas apenas a coadjuvantes, toma consciência da própria importância e do próprio poder. Dos seus próprios direitos. Na Libéria uma mulher foi eleita presidente, um país islâmico tradicional concedeu a ela o direito de voto... Talvez realmente alguma coisa esteja mudando.

Mas é da mulher cabo-verdiana que queremos falar, mesmo sabendo que a situação é análoga (ou idêntica) em centenas de outros países definidos eufemisticamente "em vias de desenvolvimento". Cabo Verde ao turista e ao visitante precipitado parece, durante o dia, um país apenas de mulheres. Elas são encontradas nos mercados: vendedoras e compradoras, pelas ruas, fazendo fila nas fontes públicas, carregando enormes pesos sobre a cabeça, acudindo os filhos e os idosos. Ocupam-se de tudo. São elas a verdadeira base da sociedade e da família.

Uma família de fato estranha, formada quase sempre por mulheres: a avó, a tia, a mulher e os filhos. Às vezes junta-se a elas também um idoso, freqüentemente maltrapilho ou não auto-suficiente. São famílias que se formam de uma tal maneira que aos olhos ocidentais parece um tanto anômala.

Quase nunca a relação entre homem e mulher tem uma continuação codificada por uma união do tipo religioso ou civil. Geralmente uma mulher tem um "namoradu" com quem felizmente coloca no mundo um filho que vem a ser acolhido pela família da mãe. É raro, porém acontece, que uma união dê origem a um novo núcleo familiar (ainda que de amigados). É assim que na vida dos jovens de ambos os sexos, os "namoradu" seguem, deixando um rastro de filhos. Uma situação que do ponto de vista ocidental julgaríamos caótica e intolerável. Os pais que quase nunca têm ligação com a família das mulheres, contribuem com o sustento dos filhos segundo à consciência (e este tipo de consciência é decididamente raro).

É aqui que a mulher cabo-verdiana revela a sua excepcionalidade. Só, ela assume todo o peso do núcleo familiar. Cria para si um trabalho: passa a vender nas estradas, à margem dos mercados, divide e administra os poucos recursos e consegue quase sempre dar a todos um pouco de comida por dia. Quando não mais consegue fazê-lo, procura o caminho da emigração, ainda assim, não esquece daqueles que ficaram em casa e continua a mandar dinheiro e mercadorias que asseguram a sobrevivência dos filhos e dos velhos.

E os homens? -Perguntarão vocês.

Sem querer generalizar, o panorama é realmente esquálido. O homem aparece completamente desresponsabilizado em relação à família e à sociedade em geral. Dentre aqueles que pertencem ao sexo masculino, a taxa de alcoolismo é muito elevada (mais grave ainda se considerarmos que a idade média da população cabo-verdiana é de vinte e oito anos). A emigração que sofreu uma desaceleração nos últimos anos, agora parece reservada unicamente a quem pode permitir-se a obtê-la por outros caminhos. É fato que as remessas de emigrados são em sua maioria de origem feminina.

Todavia, este tipo de sociedade (incompreensível para muitos) funciona, têm suas regras e não criam mais problemas do que aqueles que derivam de uma separação legal ou de um divórcio. O filho não é nunca "filho de ninguém" ou pior, um "bastardo"; é sempre o filho da fulana e do cicrano. E os pais não estarem juntos, isto é apenas um detalhe, é normal...

Neste ponto, seria necessária uma reflexão, trazer à tona as conclusões. Após as conclusões, trazer as sugestões e propor soluções... Convenhamos que não estamos habilitados a fazer isso. Preferimos aceitar este novo "modelo" sem a presunção de propor modificações que poderiam comprometer o equilíbrio estabelecido durante os anos.

Uma consideração sabemos que é importante fazer: a mulher cabo-verdiana em confronto com o homem cabo-verdiano sai certamente vencedora. É um Gigante em confronto com um anão.

 

A&A (mail: [email protected])

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