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E por que haverias de querer...

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras liquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

E perché dovresti volere

E perché dovresti volere la mia anima
Nel tuo letto?
Dissi parole liquide, dilettose, aspre
Oscene, perché era così che ci piaceva.
Ma non finsi godimento piacere lussuria
Né omisi che l'anima è altrove, in cerca
Di quell'Altro. E ti ripeto: perchè dovresti
Volere la mia anima nel tuo letto?
Gioisci del ricordo di coiti e di successi.
O tentami di nuovo. Obbligami.

(traduz. Tiziana Tonon)

De tanto te pensar

De tanto te pensar, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.

De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.

De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.

Di tanto a te pensare

Di tanto a te pensare, m'è venuta l'illusione.
La stessa illusione
della giumenta che sorbe l'acqua pensando sorbir la luna.
Dal pensarti mi getto nelle acquate
E credo di brillare e star legata
Al fulgore del dorso d'un nero cavallo di cento lune.

Dal sognarti, nulla ottengo,
Ma in me credo l'oro e il mondo.
Dall'amarti, d'ossa e abissi posseduta
Credo aver carne e vagare
Intorno alla tua assenza. Dal mai toccarti
Toccando gli altri
Credo aver mani, credo aver bocca
Quando ho solo zampe e muso.

Dal molto desiderare altezza e eternità
Mi vien la fantasia che Esisto e Sono
Quando non son nulla: fantasmagorica giumenta
che sorbe la luna nell'acqua.

(traduz. Giancarlo Perlo)

 

Poesia XXII

Não me procures ali
Onde os vivos visitam
Os chamados mortos.
Procura-me
Dentro das grandes águas
Nas praças
Num fogo coração
Entre cavalos, cães,
Nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
Ou espelhada
Num outro alguém,
Subindo um duro caminho

Pedra, semente, sal
Passos da vida. Procura-me ali.
Viva.

Poesia XXII

Non mi cercare lì
Dove i vivi visitano
I cosiddetti morti.
Cercami
Dentro le grandi acque
Nelle piazze
In un fuoco cuore
Tra cavalli, cani,
Nelle risaie, nel rivo
O insieme agli uccelli
O specchiata
In un altro qualunque,
Salendo un duro cammino

Pietra, semente, sale
Passi della vita. Tu cercami lì
Viva.

(traduz. Giancarlo Perlo)

 

Que este amor não me cegue nem me siga

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.

Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

Che questo amore non mi accechi né mi segua

Che questo amore non m'accechi nè mi segua.
E di me stessa mai egli s'avveda.
Che m'escluda dall'essere inseguita
E dal tormento
Di sapermi sol per lui in vita.

Che lo sguardo non si perda nei tulipani
Poichè forme così perfette di bellezza
Vengon dal fulgore delle tenebre
E il mio Signore abita il rutilante scuro
D'un supposto d'edere in alto muro.

Che questo amore sol mi faccia scontenta
E stanca di fatiche. E di fragilità tante
Io mi faccia piccina. E minuta e tenera
Come sol sono i ragni e le formiche.

Che questo amore sol mi veda già partita.

(traduz. Giancarlo Perlo)

 

Para poder morrer

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.


Aflição de ser eu e não ser outra

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.


 

Fragmentos

Muros castos e tristes
Cativos de si mesmos

Como criaturas que envelhecem
Sem conhecer a boca
De homens e mulheres.

Muros Escuros, tímidos:
Escorpiões de seda
No acanhado da pedra.

Há alturas soberbas
Danosas, se tocadas.
Como a tua própria boca, amor,
Quando me toca...

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