O Ponto de Encontro - Banner
Home Livros  Arquivo Retratos Poemas (Carlos Drumond de Andrade)
 

 

Segredo

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte. Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

Segreto

La poesia è incomunicabile.
Stai storto nel suo canto.
Non amare.

Sento dire che c'è una sparatoria
alla portata del nostro corpo.
É la rivoluzione? l'amore?
Non dire nulla.

Tutto è possibile, solo io impossibile.
Il mare trabocca di pesci.
Ci sono uomini che vanno nel mare
come se andassero sulla strada.
Non li contare. Supponi che un angelo di fuoco
spazzasse la faccia della terra
e gli uomini sacrificati
chiedessero perdono.
Non domandare.

(traduz. Massimiliano Fiorani)

 

Congresso internacional do medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

 

Congresso internazionale della paura

Per il momento non canteremo l'amore,
che si è rifugiato più in basso dei sotterranei.
Canteremo la paura, che rende sterili gli abbracci,
non canteremo l'odio perché ciò non esiste,
esiste appena la paura, nostro padre e nostro compagno,
la grande paura delle foreste, dei mari, dei deserti,
la paura dei soldati, la paura delle madri, la paura delle chiese,
canteremo la paura dei dittatori, la paura dei democratici,
canteremo la paura della mosrte e la paura di dopo la morte,
e poi moriremo di paura
e sopra le nostre tombe nasceranno fiori gialli e paurosi.

(traduz. Massimiliano Fiorani)

 

As Sem razões do Amor

Eu te amo porque te amo
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga, nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

 

Le Sragioni dell’Amore

Io ti amo perché ti amo.
Non serve che tu sia amante,
e non sempre sai esserlo.
Io ti amo perché ti amo.
Amore è stato di grazia
e non si paga con amore.

Amore si dà gratis
si semina nel vento,
nella cascata, nell'eclissi.
Amore sfugge ai dizionari
e ai regolamenti vari.

Io ti amo perché non amo abbastanza me.
Perché amore non si scambia,
non si coniuga, né si ama.
Perché amore è amore di niente,
felice e forte in se stesso.

Amore è cugino della morte
e della morte vittorioso, per quanto lo uccidano (e uccidono)
ad ogni istante d'amore.

(traduz. Tiziana Tonon)

 

No meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nel mezzo del Cammino

Nel mezzo del cammino c’era una pietra
c’era una pietra nel mezzo del cammino
c’era una pietra
nel mezzo del cammino c’era una pietra
Non dimenticherò mai questo avvenimento
nella vita delle mie retine così stanche.
Non dimenticherò mai che nel mezzo del cammino
c’era una pietra
c’era una pietra nel mezzo del cammino
nel mezzo del cammino c’era una pietra.

(traduz. Tiziana Tonon)

 

Amor

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar
por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da
sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o
dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de
ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um
presente divino: o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais
que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las
com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer
momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos
emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que
está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim,
tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir
morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma
dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou
encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem
atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer
verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as
loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

Amore

Quando incontri qualcuno e questo qualcuno fa fermare il tuo cuore
per alcuni secondi, fai attenzione: Può essere la persona più importante della
tua vita.

Se gli occhi si incrociano e in quel momento c’è la stessa luce intensa
tra loro, stai in allerta: può essere la persona che stai aspettando dal
giorno in cui sei nato.

Se il tocco delle labbra è stato intenso, se il bacio è stato appassionante e gli occhi
si sono riempiti d’acqua in quel momento, rifletti: c’è qualcosa di magico tra voi.

Se il primo e l’ultimo pensiero del giorno è per quella persona, se il desiderio di
stare insieme arriva a stringerti il cuore, ringrazia: Dio ti ha mandato un
dono divino: l’amore.

Se un giorno doveste chiedere perdono l’uno all’altro per qualche motivo e in cambio
ricevere un abbraccio, un sorriso, una carezza sui capelli e i gesti varranno più
di mille parole, arrenditi: voi siete fatti l’uno per l’altro.

Se per qualche motivo fossi triste, se la vita ti avesse inflitto un colpo e
l’altra persona soffrisse il tuo dolore, piangesse le tue lacrime e le asciugasse
con affetto, che cosa meravigliosa: tu potrai contare su di lei in qualsiasi
momento della tua vita.

Se riesci col pensiero a sentire l’odore della persona come se lei
si trovasse lì al tuo fianco… se la trovi meravigliosamente bella,
anche quando indossa un vecchio pigiama, ciabatte infradito e ha i capelli
arruffati...

Se non riesci a lavorare per tutto il giorno, emozionato per l’appuntamento che
avete quella sera… se non riesci a immaginare, in nessun modo,
un futuro senza quella persona al tuo fianco…

Se hai la certezza che la vedrai invecchiare e, anche così,
sei convinto che continuerai ad essere pazzo di lei… se preferiresti
morire prima di vedere l’altra andarsene: è l’amore che è entrato nella tua vita. È un
dono.

Molte persone si innamorano molte volte nella vita, ma poche amano o
trovano un amore vero. O a volte lo incontrano e non prestando attenzione
a questi segnali, lo lasciano passare, senza lasciarlo accadere
veramente.

È il libero arbitrio. Per questo presta attenzione ai segnali, non lasciare che le
follie del quotidiano ti rendano cieco alla miglior cosa della vita: l’amore.

(traduz. Tiziana Tonon)

Acordar Viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.

Svegliarsi Vivere

Come svegliarsi senza sofferenza?
Ricominciare senza orrore?
Il sonno mi ha trasportato
in quel regno in cui non esiste vita
e io resto inerte senza passione.
Come ripetere, giorno dopo giorno dopo giorno,
la fiaba senza finale,
sopportare la somiglianza dei fatti aspri
di domani ai fatti aspri di oggi?
Come proteggermi dalle ferite
con cui mi dilania l’accadimento
qualsiasi accadimento
che ricorda la Terra e la sua porpora
demente?
E poi quella ferita che mi infliggo
ad ogni istante, carnefice
dell’innocente che non sono?
Nessuno risponde, la vita è petrosa.

(traduz. di Tiziana Tonon)

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Memoria

Amare il perduto
lascia confuso
questo cuore.
Nulla può l’oblio
contro l’insensato
appello del No.
Le cose tangibili
diventano insensibili
al palmo della mano.
Ma le cose concluse,
molto più che belle,
quelle rimarranno.

(traduz. Tiziana Tonon)

 

Amor - Pois Que É Palavra Essencial

Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
nu úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um Deus acrescenta o amor terrestre.

Amore – In quanto Parola Essenziale

Amore – in quanto parola essenziale
inizi questa canzone e tutta l’avvolga.
Amore guidi il mio verso, e nel guidarlo,
riunisca anima e voglia, membro e vulva.
Chi oserà dire che amore è solo anima?
Chi non sente nel corpo l’anima espandersi
fino a sbocciare in puro grido
di orgasmo, in un istante di infinito?
Il corpo ad altro corpo allacciato,
fuso, dissolto, torna all’origine
degli esseri, che Platone vide completati:
è uno, perfetto, in due; sono due in uno.
Integrazione a letto o già nel cosmo?
Dove ha fine la stanza e arriva agli astri?
Quale forza nei nostri fianchi ci trasporta
a quell’estrema regione, eterea, eterna?
Al delizioso tocco del clitoride,
già tutto si trasforma, in un baleno.
In un piccolo punto di quel corpo,
la fonte, il fuoco, il miele si concentrano.
La penetrazione sfalda nubi
e mostra soli tanto sfolgoranti
che mai la vista umana ha sopportato,
ma, affamato di luce, il coito prosegue.
E prosegue e si dispiega in modo tale
che, oltre noi, oltre la stessa vita,
come attiva astrazione che si fa carne,
l’idea di godere sta godendo.
E in un soffrire di piacere tra parole,
anzi meno, suoni, ansimi, sospiri,
un solo spasmo in noi raggiunge il climax:
è quando l’amore muore d’amore, divino.
Quante volte moriamo uno nell’altro,
nell’umido sotterraneo della vagina,
in quella morte più dolce del sonno:
la tregua dei sensi, soddisfatta.
Allora la pace si instaura. La pace degli dei,
stesi sul letto, come statue
vestite di sudore, grate
per ciò che a un Dio aggiunge l’amore terreno.

(traduz. Tiziana Tonon)

 

Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Ricerca della Poesia

Non fare versi sugli avvenimenti
Non esiste creazione né morte al cospetto della poesia.
Di fronte a lei, la vita è un sole immobile,
non scalda né illumina.
Le affinità, gli anniversari, gli accidenti personali non contano
Non fare poesia con il corpo,
quell’eccellente, completo e confortevole corpo, così avverso all’abbandono lirico.

La tua bile, la tua smorfia di piacere o di dolore nel buio
sono trascurabili.
Non rivelarmi i tuoi sentimenti,
che si avvalgono dell’equivoco e tentano il lungo viaggio.
Ciò che pensi e senti, ancora non è poesia.

Non cantare la tua città, lasciala in pace.
Il canto non è il movimento delle macchine né il segreto delle case.
Non è musica udita di passaggio, rumore del mare nelle strade prossime alla linea dei flutti.

Il canto non è la natura
né gli uomini in società.
Per lui, pioggia e notte, fatica e attesa non significano nulla.
La poesia (non trarre poesia dalle cose)
elide soggetto e oggetto.

Non drammatizzare, non invocare,
non indagare. Non perdere tempo a mentire.
Non ti indignare.
Il tuo yacht di marmo, la tua scarpa di diamanti,
le vostre mazurche e illusioni, i vostri scheletri di
famiglia
scompaiono nella curva del tempo, è qualcosa di inutile.

Non ricomporre
la tua sepolta e malinconica infanzia.
Non oscillare tra lo specchio e la
memoria in dissolvimento
Che si è dissolta, non era poesia.
Che si è frantumato, non era cristallo.

Penetra in sordina nel regno delle parole.
Là stanno le poesie che attendono di essere scritte.
Sono paralizzate, ma non c’è disperazione,
c’è calma e freschezza sulla superficie intatta.
Eccole sole e mute, in stato di dizionario.

Convivi con le tue poesie, prima di scriverle.
Abbi pazienza, se oscure. Calma, se ti provocano
Aspetta che ciascuna si realizzi e si consumi
con il suo potere di parola
e il suo potere di silenzio.
Non forzare la poesia a separarsi dal limbo.
Non raccogliere da terra la poesia che si è persa.
Non adulare la poesia. Accettala
come lei accetterà la sua forma definitiva e concentrata
nello spazio.

Avvicinati e contempla le parole.
Ciascuna
possiede mille facce segrete sotto quella neutra
e ti domanda, senza interesse per la risposta,
povera o terribile che le darai:
Hai portato la chiave?

Bada:
prive di melodia e concetto
esse si rifugiarono nella notte, le parole.
Ancora umide e impregnate di sonno,
sono trascinate in un fiume turbolento e si trasformano in disprezzo.

(traduz. Tiziana Tonon)

 

 

Soneto da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.
Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa
com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

 

Campo de flores

Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.

Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

Voltar à página principal (em português) | Tornare alla pagina principale (in italiano)
Para sugerir um site | Colaborar
Contato | Forum