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Em minha vida profissional tive muitas oportunidades de lidar com estrangeiros. Sempre procurei ser o mais receptivo e prestativo possível, às vezes até um tanto didático. Percebi que alguns vinham mais ou menos preparados para entender o português, porém, mesmo para estes, algumas palavras ou expressões podiam se tornar verdadeiros enigmas. Seus dicionários e manuais tão cuidadosamente estudados não podiam ter tudo...
Talvez soe estranho para um estrangeiro esta expressão. Como podem estar juntas duas palavras com oientações opostas? A palavra "preguiçoso" se refere a uma coisa má, que é a preguiça. O que significa então o "bem" antes de "preguiçoso"?
Vamos tentar esclarecer apenas utilizando exemplos do fala cotidiano _com as "traduções ao lado, naturalmente:
- Dormindo até as 11 horas... Você é bem (muito) preguiçoso, hein?
Outro exemplo:
- Bem folgado o seu irmão: pediu emprestada minha camisa, demorou só dois meses para devolver e ainda por cima trouxe ela suja.
"Bem folgado" poderia ser traduzido como "Muito atrevido". O "só" (somente, apenas) é ironia."Ainda por cima" poderia ser traduzido como "além de tudo", "além do mais" ou "além disso".
Aqui cabe ressaltar ainda um ponto. Em português correto, mas não o falado nas ruas, a frase seria:
- Muito atrevido o seu irmão: pediu emprestada minha camisa, demorou dois meses para devolver e além disso trouxe-a suja".
Eis aqui uma palavrinha muito usada no nosso dia-a-dia. Seu significado, dito de uma maneira bem (muito) resumida seria "ok". Mas vamos conhecer mais um pouco sobre o "tá".
Já falamos meio que "de passagem" sobre o "tá" no tema "Aquiescências". Agora vamos detalhar um pouco mais. Comecemos com um exemplo de conversação cotidiana:
- Hoje é o seu dia de lavar a louça, 'tá?
- 'Tá...
Mais um exemplo:
- Eu combinei com você que sairíamos hoje para jantar fora, mas vou ter que fazer hora-extra. Que tal amanhã, então?
- Então tá.
Agora vamos ver como esta palavrinha apareceu. Uma frase longa foi encurtando e encurtando até se tornar menos que uma palavra. Vejamos:
- Assim está bom para você?
- Sim, está bom.
Só que ninguém fala deste jeito. Coloquialmente a coisa acontece mais assim:
- Assim 'tá bom procê?
- 'Tá bom.
E se a intimidade é grande e o assunto não é polêmico:
- 'Tá?
- 'Tá.
Na verdade, em conversação cotidiana costumamos amputar" uma parte do verbo "estar". Dizemos "Tô frito!" em vez de "Estou em apuros!" ou "Tamos feitos!" em vez de "Estamos com sorte!".
Quando se usa o verbo no passado a coisa também é assim. Dizemos "Foi mal, ontem eu 'tava nervoso..." em vez de "Desculpe, ontem eu estava nervoso..." Então tá.
Esta expressão de uso corrente e nada formal significa "igual a", "da mesma forma que".
Alguns exemplos de utilização: "Ele já está nadando que nem um peixe", "Os preços estão subindo que nem foguete", "Aqui na nossa aldeia as coisas acontecem que nem numa cidade grande do primeiro mundo". Pelos exemplos, percebe-se que esta expressão serve para comparar duas coisas, mas sempre com o sentido de mostrar a coisa comparada como adiantada, avançada, evoluída, precoce.
Talvez a origem desta expressão seja uma frase maior que foi encurtada (processo de elisão). Vejamos os exemplos ditos da maneira longa: "Ele já está nadando de um modo tal que nem mesmo um peixe conseguiria nadar assim", "Os preços estão subindo de um modo tal que nem mesmo um foguete subiria", "Aqui na nossa aldeia as coisas acontecem de um modo tal que nem mesmo numa cidade grande do primeiro mundo seria possível".
Fácil que nem cuspir pro lado, né?
Aquiescências
A verdade é que a palavra "aquiescer" é pouco usada
e pouco conhecida, embora não seja uma palavra erudita. Aquiescer significa
consentir, aprovar, concordar, permitir.
Na conversa informal do dia-a-dia, quando combinamos algo com alguém,
ao final devemos expressar nossa aquiescência com o que foi falado. As
formas mais naturais ouvidas hoje são: "Então tauquei"
("tauquei" é como se fala; escreve-se "está ok,
'tá ok"). "Então tá bom" ou "Tá
bom". "Tá legal" (uso entre iguais, muito informal). "Jóia"
(uso entre iguais, muito informal). "Falou" (uso entre iguais, muito
informal). "Beleza" (uso entre iguais, muito informal). "Valeu
(uso entre iguais, muito informal e com um sentido adicional de agradecimento).
"Tranquilo" (tem um sentido adicional de garantir que o combinado
acontecerá ou que se está satisfeito com o combinado ou ainda
que o combinado não causará problemas).
Exemplo de diálogo: "Então fica assim: eu te pago na sexta
(sexta-feira), falou (ou falei)"? "Jóia"!
Falei?
Antigamente quando se desejava muito que alguma coisa acontecesse, dizia-se: "Oxalá você seja promovido." Ainda se encontra nos romances antigos esta expressão utilizando a palavra "oxalá".
Hoje utiliza-se a palavra "tomara" em construções assim: "Tomara que você seja promovido."
Além do "tomara que" pode-se ouvir algo assim: "Queria tanto que não chovesse amanhã..." ao que o interlocutor pode responder laconicamente, manifestando concordância e igual desejo: "tomara..."
Pelo menos a primeira vista esta palavra tomara, não tem nenhum outro
sentido próprio isoladamente, sendo apenas utilizada com este sentido.
Nada a ver com o verbo tomar, por exemplo. Esta palavra tomara é utilizada
para dar nome a uma peça do vestuário feminino. É um tipo
de blusinha sumária, normalmente de algodão, sem alças
sobre os ombros. Devido a esta sua deficiência de alças, seu nome
é "tomara que caia". Eu nunca vi uma cair...
Originalmente esta palavra se refere a uma transação comercial. Quando se faz uma venda, por exemplo, pode-se dizer: "fechamos um bom negócio hoje".
Pode-se utilizar esta palavra também para se referir à área de atuação profissional, donde, por exemplo, pode-se dizer: "meu negócio é a distribuição de remédios".
Até aí nada de novo, mas há mais: "negócio", de alguma forma, é, ou sempre foi desde o início e eu é que estava desavisado, sinônimo de "coisa". Daí surgem construções do tipo: "Que negócio é este?!" quando por exemplo alguém se depara com alguma coisa estranha, inusitada. Outro exemplo: "Ei, tem um negócio gosmento no chão da cozinha..."
Negócio esquisito, não?
Usamos muito esta expressão, que pode ser substituída por "nós". Quando usamos "a gente" em vez de "nós" surgem algumas particularidades na concordância com o verbo; confira pelos exemplos:
- Amanhã nós vamos visitar sua tia.
- Amanhã a gente vai visitar sua tia.
- Aqui somos todos amigos.
- Aqui a gente é tudo amigo.
- Nós queremos pizza, muita pizza!
- A gente quer pizza, muita pizza!
Um erro comum é se dizer: "nós vai" ou "a gente vamos", "nós quer" ou "a gente queremos". Ouve-se muito, especialmente em se tratando com pessoas simples do interior, de zonas rurais.
Aliás, falando sobre concordância verbal errada... há uns adesivos que se vendem muito em rodeios e que se vêem nos parabrisas das camionetes, que em frases curtas tentam captar o espírito dos peões de rodeio. Dizem assim (alguns):
"Nóis é us mió!" (Nós somos os melhores)
"Nóis capota mai num breca." (Capotamos mas não freiamos)
"Nóis é us cara." (nós somos os caras, os sujeitos
famosos)
Esta palavra, que originalmente significa comandar, ordenar, também
é utilizada com o sentido de "enviar".
Exemplos de utilização: "Você que vai para longe, não
esqueça de mandar notícias" ou "Mande o livro pelo correio".
É quando se utiliza uma palavra com um duplo sentido em uma construção espirituosa. Normalmente os trocadilhos são de difícil compreensão fora do seu idioma original.
Exemplos de trocadilhos: Um colega meu dos tempos de quartel, chamado Quintanilha, era muito puxa-saco dos oficiais. Os puxa-sacos também são chamados de baba-ovos. Bem, para utilizarmos alguma sutileza, nós o chamávamos de Quintaovos Babanilha. Um trocadilho inocente.
Outro: Sabes qual é a diferença entre calças e botas? É que as calças a gente bota e as botas a gente calça... Um trocadalho do carilho.
Quando um trocadilho é especialmente cruel ou de baixo nível, costuma-se classificá-lo como "infame".
Esta palavra pode significar "pertencente à família"
ou "relativo à família", mas nem sempre. Eis alguns
exemplos de utilizações normais.
"Esta reunião é exclusivamente familiar". Somente pessoas
da família de quem fala podem participar da reunião.
"Nesta empresa não costumamos dar emprego a familiares dos donos".
Não se
pratica o nepotismo (incrível!).
"Este é um hotel familiar". Atenção: aqui há
uma pequena particularidade. Este hotel não é destinado a encontros
de casais (motel).
Agora vejamos uma utilização menos comum.
"Finalmente vejo um rosto familiar!" A palavra familiar aqui significa
apenas "conhecido".
"Esta estrada começa a me parecer familiar... estamos chegando ao
Rio de
Janeiro". Aqui também o significado é de "conhecido".
Familiarizado com mais esta palavra?
Significa "acabar com", liquidar, eliminar, matar.
Exemplo de utilização: "A moradora irritada disse que um
dia ainda daria cabo daquele gato ladrão e barulhento."
Outro exemplo: "Juro que até o fim do ano vou dar cabo daquela bagunça
no depósito."
Pode parecer que a expressão tem alguma coisa a ver com o verbo "acabar".
Tal não sucede. O particípio do verbo acabar é acabado,
inexistindo a forma "cabo" ou qualquer coisa semelhante.
A expressão tem parentesco (talvez longínqüo) com uma outra
que significa "do início ao fim": de cabo a rabo.
Exemplo de utilização: "Li aquele livro de cabo a rabo em
um só dia!"
Comparando as duas expressões, pessoalmente acho que, em relação
à primeira, deveríamos dizer "dar cabo a" e não
"dar cabo de", além de seu significado ser "iniciar uma
tarefa". O que você acha?
Tenho alguma chance de convencer os gramáticos, lingüistas e estudiosos
do assunto?
Esta expressão significa o mesmo que "a todo vapor".
Interessante notar que se fosse uma frase coloquial, construída ao sabor
de uma conversação normal, seria montada numa seqüência
diferente (com toda a corda).
Outra particularidade: a palavra "corda" neste caso não se
refere à corda usada para amarrar coisas. Trata-se de outra corda: mecanismo
de acionamento de despertadores e outros maquinismos simples, baseado em uma
borboleta e uma mola helicoidal.
Calhar significa coincidir.
Usa-se esta expressão em relação a um acontecimento que,
sem ter sido planejado, ocorre em bom acordo com a situação atual.
Trata-se de uma boa coincidência.
Exemplo de utilização de "calhar": "Veja só
que sorte! Calhou de o dia do meu aniversário cair num feriado."
Exemplo de utilização da expressão: "Veio bem a calhar
a troca do gerente, eu já não suportava mais esse que está
saindo."
Esta palavra passa a impressão para quem a ouve que significa exterminar,
eliminar totalmente, aniquilar. De fato ela tem sido usada com este sentido,
pelo menos em todas as vezes que a ouvi, o interlocutor desejava expressar a
idéia de extermínio. Mas...
O fato real e histórico é que nas batalhas da antiguidade, quando
um exército utilizava meios desleais contra seu inimigo, se viesse a
ser derrotado, o comandante vencedor punia os vencidos cobrando o dízimo
em vidas. Um entre cada dez soldados do exército perdedor deveria ser
executado.
Também quando um exército demonstrasse falta de bravura em combate,
se mesmo assim viesse a ser vencedor, seu próprio comandante punia seus
comandados cobrando o dízimo em vidas.
Dizimamos ou eliminamos a dúvida?
Originalmente significava moleque negro, negrinho. Hoje não se reconhece
mais este significado.
Em 1939 começou a circular uma revista de histórias em quadrinhos
cujo nome era Gibi. De tão conhecida, seu nome passou a significar revista
de histórias em quadrinhos (até hoje).
Nome com que os indígenas no Brasil designavam a divindade suprema.
Hoje esta palavra não é utilizada, mas seu conhecimento foi preservado
devido a fazer parte do que se aprende na escola primária sobre os costumes
de nossos indígenas.
Seria apenas uma coincidência que no grego "Theos Pan" era o
deus universal?
Há muitas maneiras de se designar menino, garoto. Estas duas são
as "oficiais", aceitas em qualquer meio ou tipo de publicação.
Das formas menos oficiais, tidas quase como regionalismo ou gíria, a
mais difundida é "guri".
Há outras. Em Manaus (capital do Estado do Amazonas) e Belém (capital
do Estado do Pará) se usa "baré", que também
é uma marca de refrigerante de guaraná. Pode-se ouvir um comentário
como este: "Ela casou e já tem dois barezinhos."
Mais. No Rio Grande do Sul utiliza-se "piá", que na verdade
é um guri um pouco mais novinho.
No Rio de Janeiro utiliza-se "moleque". Há neste caso um tom
depreciativo, pois moleque é o filho de pobre, que brinca descalço
nas ruas. "Moleque" também pode ser xingamento, se for dirigido
a um homem adulto. Neste caso significa que seu comportamento foi irresponsável
e destrutivo.
Bacuri. Esta palavra de fato designa filhotinho de porco, um leitãozinho.
Em algumas regiões do nordeste ou do interior de estados do sudeste há
pessoas que se referem assim aos seus filhos (tratamento carinhoso).
Trombadinha. Assim se chamam os menores de rua que ganham a vida cometendo crimes
nas ruas, roubando ou assaltando, normalmente pessoas idosas e mulheres. Uma
de suas táticas é dar um encontrão numa pessoa, que enquanto
se distrai com o incidente, é roubada por outro integrante do grupo.
Inesperadamente esta palavra tem o mesmo radical de testículo.
É que na antiguidade (Assíria, Mesopotâmia, etc) só
era admitido o testemunho de homens, que ao declararem em juízo alguma
coisa como verdade, colocavam a mão sobre os testículos para tornar
solene sua declaração. Daí o verbo testemunhar.
Em processos criminais e disputas comerciais normalmente não se utilizavam
testemunhas, e quando tal ocorria estas deveriam ser pelo menos duas e seus
testemunhos deviam concordar.
O testemunho era mais utilizado para confirmar a venda de propriedades e bens
de grande valor.
Hoje em dia as mulheres podem testemunhar, mas para que tal ato não se
transformasse em uma situação embraraçosa, o costume foi
alterado. A sociedade adotou que se deve colocar a mão sobre um livro
sagrado para tornar solene a declaração da testemunha.
Quando se entra no mar ou num rio ou numa lagoa, diz-se que está "dando
pé" quando se pode ficar em pé e manter a cabeça para
fora da água. Cotidianamente, quando se diz que uma situação
"dá pé", significa que pode ser enfrentada com algum
grau de facilidade.
Você pode ouvir frases assim: "Sabe aquele empréstimo que
você me pediu? Não vai dar pé..."
Dar no pé
Uma expressão parecida, mas que não tem nada a ver com "dar
pé". Significa correr, sair imediatamente.
Você pode ouvir frases assim: "Vamos dar no pé, que a polícia
está chegando!"
Regionalismo gaúcho. Significa grande, muito grande. É utilizado
entre pessoas de mesmo nível social ou íntimas. Trata-se de um
linguajar popular.
Exemplo de utilização: "O Zé é um baita amigão!"
ou "A Maria é um baita mulherão" ou ainda "Estou
com uma baita dor de cabeça".
Origina-se do tupi mbaé-tatá, coisa fogosa.
Baita pílula!
Mais informações sobre os tupi:
http://www.travelgeo.it/news.asp?623
Quando uma pessoa não está nem um pouco interessada em determinado
assunto, nem se preocupando com o desfecho de alguma situação,
ela pode dizer "Não estou nem aí para isto" ou "Estou
cagando e andando para isto" ou de maneira mais dramática, "Estou
cagando um tronco para isto".
Outro sinônimo (nesta mesma linha) para "estar desinteressado"
é "cagar mole". Pode-se dizer, por exemplo: "Meu chefe
está cagando mole para o que eu faço na empresa".
Outra utilização do verbo "cagar": quando uma pessoa não se decide sobre alguma coisa, fazendo os outros esperarem, pode-se dizer que ela "não caga nem desocupa a moita". Aliás, aqui nesta região de Minas, há muita gente nesta situação, pois os mineiros daqui gostam de ficar noivos indefinidamente. Há noivados com mais de 10 anos, sô!
A propósito, quem caga e anda são os bovinos e os cavalos, que parecem não dar maior importância ao mundo à sua volta. Talvez venha daí a frase.
Faltou dizer o mais importante. A expressão "cagar" é
vulgar e chocante. Qualquer pessoa educada que necessite mencionar o ato de
cagar, utiliza a expresão "evacuar", socialmente aceita.
É o apelido de quem se chama Francisco, assim como Chica é o
apelido de quem se chama Francisca.
Outra utilização: no linguajar popular, quando uma mulher está
menstruada, diz-se que ela "está de Chico".
Um dos rios mais importantes do Brasil é o Rio São Francisco,
que nasce bem no meio de Minas Gerais, correndo para o norte paralelo à
linha da costa (direção NE, na verdade), atravessa a Bahia, dá
uma guinada à direita e desagua no mar fazendo a divisa dos estados de
Aracajú e de Maceió. Os povos interioranos, que dependem deste
rio para quase tudo, chamam-no de Velho Chico.
Quando queremos nos referir a pessoas indeterminadas utilizamos estes "nomes":
Fulano, Beltrano e Cicrano.
Exemplo de utilização: "Fulano chamou Beltrano que passou
a tarefa para Cicrano", ou ainda "Quem era aquela Fulana que estava
com você na festa?"
Em frases nas quais se cita apenas uma pessoa, o "nome" é sempre
Fulano. Beltrano é sempre a segunda pessoa e Cicrano a terceira.
Ainda tocando no assunto das muitas e enormes diferenças regionais que temos na Brasil, vamos saber o que se fala de algumas delas.
O carioca (natural do Rio de Janeiro) tem fama de boa-vida, despreocupado,
acessível, divertido. Aliás, esta fama é até internacional.
O paulista (natural de São Paulo) tem fama de sério, trabalhador,
pouco receptivo.
O mineiro (natural de Minas Gerais) tem fama de pão-duro, desconfiado
e calado, apesar de muito receptivo.
O baiano (natural da Bahia) tem fama de festeiro, preguiçoso, ótimo
amante e extremamente receptivo.
O gaúcho (natural do Rio Grande do Sul) tem fama de expansivo, falador,
valentão, machão (ou por provocação dos cariocas,
afeminado, bichona, boneca).
O cearense (natural do Ceará) tem fama de muito receptivo, trabalhador
e empreendedor, forte frente aos desafios. São os melhores garçons
e cozinheiros. Há quem diga que foram eles que construíram São
Paulo.
Há muitas outras regiões de que se falar, mas correndo o risco de cometer alguma injustiça, estas são as mais lembradas e comentadas. Embora ninguém goste de admitir estas definições, por se tratar de uma espécie de preconceito, no geral elas não ficam muito longe da realidade. Agora cada um que se defenda, mas não precisa atacar...
Trata-se de uma expressão quase chula utilizada para qualificar alguma coisa mal feita, mal acabada, sem qualidade. Exemplo: "O encanamento da casa vive dando vazamentos, parece que foi feito nas coxas", ou "Que tipo de engenheiro você é para ter projetado esta porcaria? Parece que seu curso foi feito nas coxas".
A maior parte das pessoas, por desinformação, supõe que esta expressão tem teor sexual. Ou seja, um filho feito nas coxas, sem penetração, sem vontade de ser feito, um acidente da natureza. Interpretação errada.
Vejamos a estória correta: na época do império, quando não tínhamos indústrias de nada, as telhas das casas eram feitas pelos escravos utilizando suas coxas como molde. Como elas deviam encaixar entre si, todas as telhas de uma casa deveriam ser feitas por escravos com coxas parecidas ou por um único escravo.
Havia um porém: as telhas de uma casa poderiam não encaixar no telhado de outra, se fosse necessária uma substituição. Isto é um dentre os vários outros problemas decorrentes da não padronização. Quando começaram-se a fabricar telhas padronizadas, as antigas feitas nas coxas passaram a ser sinônimo de coisa mal feita, mal acabada, sem qualidade.
Como fomos mal agradecidos com os escravos!
Temos vários tipos de pronúncias e muitas palavras de determinadas
regiões que são desconhecidas em outras. Para comentar apenas
um ponto das inúmeras variedades, vejamos como se pronuncia o erre (R)
em algumas poucas regiões do país.
Utilizemos a palavra "porta" como exemplo, para tal fim.
Ouça o arquivo "Portas.mp3".
No Rio de Janeiro assim como em muitas outras regiões fala-se como o
primeiro dos quatro exemplos.
Em boa parte de São Paulo e de Minas Gerais fala-se como o segundo dos
quatro exemplos.
Nas regiões mais interioranas destes estados o falar torcido do erre
é acrescido de um leve "i" (poirta), como o terceiro dos quatro
exemplos..
Nos estados do sul do país o erre é falado como o quarto dos quatro
exemplos.
Mas há outros erres, isto é só uma pílula...
Palavrinha popular muito usada com o significado de confusão. Um exemplo: "A Dona Maria soube que seu marido tem uma amante e agora está dando o maior quiprocó lá na casa deles."
Mas nem sempre foi assim. Nos tempos antigos, nos tempos das "pharmácias", quando os clientes procuravam algum remédio que não estava disponível, o farmacêutico recorria a um livro grosso que relacionava os possíveis substitutos para cada remédio ou substância. Era mais ou menos algo como "este está para aquele". O nome do livro era em latim, como convinha na época às publicações sérias: Quid Pro Quo.
O processo de busca no "Quid Pro Quo" se iniciava com a frustração
de uma compra rápida, era complexo, demorado e ininteligível para
os clientes, e se transformava em uma confusão. Inevitavelmente o nome
do livro passou a significar qualquer coisa que de simples se degenerasse em
confusão. Deu quiprocó?
O radical desta palavra deriva do latim, cálculus (pedra). Ocorre que na antiguidade utilizavam-se pequenas pedras para se fazerem cálculos, na base da correspondência biunívoca.
Quando uma pessoa sofre de cálculo renal, por exemplo, significa que em seus rins formaram-se pedras, talvez aglomerados de sais. Seus rins não estão fazendo operações matemáticas; estão é doendo mesmo.
Deriva do mesmo radical cálculus, a palavra calçada, que para nós, brasileiros significa o pavimento lateral de uma rua onde andam as pessoas. Curiosamente para os falantes do espanhol significa o pavimento central de uma rua onde andam os veículos. Obviamente que o motivo do radical cálculus ser aí utilizado é porque as ruas eram pavimentadas com pedras. Não por acaso rua em espanhol é calle. Do francês nos vem a palavra caillou (lê-se caiú), significando pedrisco, cascalho. Pedra (das grandes) é pierre mesmo.
Há algumas frases de efeito muito usadas praticamente que no Brasil inteiro e que se originaram no Rio Grande do Sul. Poucos sabem disso. Lá no sul são chamadas de adágios. Devido ao temperamento do gaúcho, falador, sem travas na língua e com gosto por chocar as pessoas, alguns dos adágios podem ser um pouco chulos, mas são um belo instantâneo da alma gaúcha. Aí vão alguns deles.
Quando alguém está muito desorientado, perdido, se diz: "Mais perdido do que cachorro em dia de mudança". Ou se diz: "Mais perdido do que cego em tiroteio".
Quando alguém é muito folgado, espaçoso, se diz: "Mais folgado do que colarinho de palhaço".
Quando alguém está "duro", sem dinheiro nenhum, se diz: "Mais duro do que banco de igreja".
Quando alguém está muito desinformado, "por fora" das novidades, se diz: "Mais por fora do que bunda de índio".
Estes são conhecidos no país inteiro. Há outros que ficaram mais restritos ao sul, talvez por serem mais obscenos ou chocantes.
Quando alguém está muito quieto, se diz: "Mais quieto do que guri (garoto, com se diz no sul) cagado".
Quando alguém é muito conhecido, se diz: "Mais conhecido do que bibelô de puta".
Quando alguém é muito pidão, se diz: "Pede mais do que filho de cego".
Quando alguém está muito cheiroso, se diz: "Mais cheiroso do que filho de barbeiro".
Quando alguém é muito parado, preguiçoso, se diz: "Mais parado do que água de poço".
Quando um lugar está muito descuidado, se diz: "Mais abandonado do que estância (fazenda, rancho) de viúva".
Quando alguma coisa (ou alguma pessoa) é muito grudenta, cola com facilidade se diz: "Gruda mais do que catarro na parede".
Quando alguma coisa é muito apertada ou entra muito justa em outra, se diz: "Mais justo do que boca de bode".
Quando alguém é muito grosso, mal educado, se diz: "Mais grosso do que papel de embrulhar prego".
Quando alguém está muito feliz, alegre se diz: "Mais feliz do que pinto no lixo".
Quando uma mulher é muito feia, se diz: "Mais feia do que desastre de trem".
E por aí vai...
É um pequeno colar de contas usado pelas beatas para rezar. Elas o levam quando vão à igreja. Seu nome vem do fato de que ele é um terço do rosário, que é também um colar de contas usado pelas beatas para rezar, porém tres vezes maior, o que o torna inadequado para se levar à igreja.
O rosário se compõe de uma série de 150 contas divididas em 15 grupos de 10 contas. Cada grupo de 10 contas é separado dos outros por uma conta maior. Há ainda um crucifixo no rosário. Cada grupo de contas deve ser rezado em comemoração aos 15 mistérios de Nossa Senhora. O primeiro terço se refere aos mistérios gozozos, o segundo aos mistérios dolorosos e o terceiro aos mistérios gloriosos.
Os cinco mistérios gloriosos são: ressurreição de Cristo; ascenção de Cristo; descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; assunção de Nossa Senhora e sua coroação.
Pã é aquele deus da floresta que procura castigar os caçadores que caçam por esporte e todos aqueles que não respeitam a natureza. Quando uma pessoa está perdida na floresta e começa a escutar sons ameaçadores, ela se sente perseguida por Pã. Os céticos dizem que a pessoa está ouvindo coisas causadas apenas pelo medo, que se trata de um medo infundado, que é um medo de alguma coisa que não existe.
Portanto, antigamente dizia-se que qualquer medo sem razão aparente era um medo de Pã. Podia-se dizer também medo pânico. Com o tempo, pânico, que é apenas o complemento do substantivo medo passou a ser utilizado como substantivo ele próprio... hoje se diz: "O pânico tomou conta de todos" ou "Ele está em pânico".
Para não restar dúvidas, o certo seria dizer: "Um medo pânico
tomou conta de todos" ou "Ele está em medo pânico".
Vai entender!...
Esta palavra é usada como sinônimo pomposo para cortejo fúnebre, enterro. Quando morre um pobre qualquer, diz-se que o enterro saírá da igreja tal para o cemitério tal. Quando morre um rico, diz-se que o cortejo fúnebre sairá da igreja tal para o cemitério tal. Quando morre uma autoridade, diz-se que o féretro sairá da igreja tal para o cemitério tal. Só que o tiro sai pela culatra neste caso. Vejamos.
Um dia destes morreu um dos nossos antigos generais que governaram o país com mão de ferro, se locupletaram e andavam cheios de medalhas no peito sem nunca terem participado de nenhuma guerra. O repórter, para parecer mais chique, se referiu ao cortejo fúnebre do dito general que já foi tarde como féretro.
Acontece que féretro é uma palavra que vem do latim e se refere ao cortejo fúnebre que os romanos faziam levando em um andor os despojos dos generais e governantes vencidos das cidades conquistadas para que a população destas cidades (e de Roma) se certificassem de quem eram os vencedores e quem eram os derrotados.Foi um bonito féretro.
Como a palavra já se apresenta clara, bastante é aquilo que basta, e só. Nem mais nem menos.
Ocorre porém, que devido a desvios que a língua sofre no dia-a-dia esta palavra tem sido utilizada com o significado de "muito" em construções do tipo: "Conseguimos bastante material hoje". Fui bastante claro?
Vamos por partes. Primeiro a palavra mais fácil: embora. Usamos "embora"
em uma construção do tipo exemplificado a seguir:
"Vamos viajar, embora esteja chovendo."
Neste caso "embora" poderia ser substituído por "ainda
que". O uso de "embora" torna a frase mais formal. Nos dois casos
a construção da frase é mais elaborada. Poderíamos
também dizer assim (mais coloquial e direto):
"Está chovendo, mas vamos viajar assim mesmo."
Acontece que a palavra "embora" tem ainda um outro significado totalmente
diverso do anterior. No falar antigo (mil novecentos e criancinha) quando alguém
estava de saída de um ambiente, iniciava suas despedidas dizendo que
estava em boa hora de sair. Vejamos a evolução do falar:
" Vamos sair em boa hora"
Isto evoluiu com a elisão do verbo:
"Vamos em boa hora"
Depois a contração (que criou uma nova palavra):
"Vamos embora"
Para finalizar, no falar apressado (e íntimo) diz-se: vam'bora! Então
tá...
Não sei como isto parecerá aos italianos, mas para nós, brasileiros, a coisa aconteceu deste jeito. Há uma expressão popular muito usada quando se quer dizer que uma criança é muito parecida com o pai ou a mãe ou com outra pessoa qualquer. Sai assim: "Zezinho é cuspido e escarrado o leiteiro..."
Se não se deseja chocar demais as pessoas com o liguajar chulo, porém mantendo a maledicência, sai assim: "Zezinho é a cara do leiteiro..."
Bem, voltemos ao "cuspido e escarrado". Diz-se por aqui que na época
em que não havia fotografia, os barões do café mandavam
esculpir seus bustos para colocar em suas imensas salas. Diz-se também
que o melhor mármore para que o trabalho do artista retratasse fielmente
o ilustre modelo era o mármore de Carrara, uma cidade ou região
da Itália.
Bem, quando a obra estava completada e as visitas chegavam para contemplá-la,
ao perceberem a semelhança da escultura com o modelo, exclamavam: "Nossa,
parece que foi esculpido em carrara!"
Ocorre que o pessoal da cozinha, ignorando que Carrara se tratava de um local e ouvindo à distância, supunha ouvir "cuspido e escarrado", algo muito mais reconhecível para eles. Taí!
Esta é uma forma de se chamar os cachorros de rua, sem raça definida. Fica evidente que o termo faz alusão ao hábito pouco higiênico porém desesperado que estes nossos desafortunados companheiros de madrugadas têm de virar as latas de lixo nas ruas para procurar alimentos. Ninguém repara nos vira-latas. Eles vivem como entes invisíveis para nós. Isto deve doer neles, tanto que quando alguém olha nos olhos de um deles, ele passa a seguir a pessoa por muitos quarteirões.
Bem, no Brasil a maioria de nós não tem raça definida
também e vive miseravelmente, sendo que muitos disputam seu alimento
com os cachorros nas latas de lixo. Isto faz com que exista uma certa identificação
entre nós e estes simpáticos animais.
Vai daí que se pode chamar alguém de vira-latas como um xingamento
ou, dependendo da intimidade entre os interlocutores e da situação,
"vira-latas" pode ser um tratamento até "carinhoso",
querendo dizer que a pessoa em questão não é dada a muitas
afetações, ou seja, é uma pessoa simples e acessível.
Ainda no setor canino, usamos "cachorro" e "cão" nas mesmas situações, mas "cachorro" é mais comumente falado.
Usamos "virar" em conversas mais informais e "tornar-se" em conversas mais formais. Exemplos: Ele se tornou meu amigo & Ele virou meu amigo.
Virar pode também significar "mudar de lado" ou "entornar" ou ainda "adernar". Exemplos: O navio virou e depois afundou & Ele virou o copo de cachaça (tomou, bebeu de um só gole). A expressão "vira-latas" é usada neste sentido.
No trânsito usa-se virar com o sentido de fazer curva. Exemplo: Vire na segunda rua à esquerda.
Num livro, viramos as páginas. Aliás, quando queremos dizer que algo já passou e não vai mais voltar, já virou passado, dizemos "isto é página virada no livro da minha vida".
Já a expressão "se virar" significa "dar um jeito",
conseguir algo por meios informais. Um diálogo pode explicar melhor:
_ Pai, hoje tem prova de História e eu não estudei nada porque
perdi meu caderno...
_ Se vira, você não é quadrado! Dá seu jeito...
Quem diz "se vira!" não está querendo assumir os problemas do outro.
Esta é uma curiosidade que não é específica da língua portuguesa. Trata-se de um grupo de palavras muito usadas, porém com seus significados desconhecidos pela maioria das pessoas. Muitas cidades têm seus quartéis, que são chamados de Batalhão, Companhia, Regimento, etc. Parece que não há uma lógica ou norma, mas há.
Um grupo de 9 combatentes recebe o nome de GC (Grupo de Combate), sendo comandado
por um sargento.
3 Gc's formam um Pelotão, que é comandado por um tenente.
3 Pelotões formam uma Companhia, que é comandada por um capitão.
3 Companhias formam um Batalhão, que é comandado por um major.
3 Batalhões formam um Regimento, que é comandado por um coronel.
3 Regimentos formam uma Brigada, que é comandada por um general de brigada
(general de uma estrela).
3 Brigadas formam uma Divisão, que é comandada por um general
de divisão (general de duas estrelas).
3 Divisões formam um Exército, que é comandado por um general
de exército (general de três estrelas).
É mais ou menos isto...
É comum ouvirmos alguém dizer, por exemplo: "Estive lá por um curto espaço de tempo". Dá para entender, mas soa estranho.
É que a Física determina algumas grandezas básicas, como Espaço, Massa, Tempo, etc. Então, espaço é espaço e tempo é tempo, não há como juntar as duas coisas, a menos que se queira obter uma grandeza secundária, que é a velocidade. Nós, os físicos, estamos empenhados em uma campanha para substituir a horrível expressão "espaço de tempo" por qualquer outra menos relativística, como por exemplo "intervalo de tempo".
Ainda falando sobre tempo, quando queremos dizer que alguma coisa será muito rápida, que não custará a passar, usamos a expressão "um instantinho" ou "um minutinho" ou ainda "um momento".Se queremos dizer que alguma coisa está quase acontecendo, podemos dizer assim, por exemplo: "Ela está chegando agorinha mesmo" ou ainda "Ela está chegando já, já".
Há uns vinte anos, esta palavra era considerada um palavrão (palavra
obscena). Hoje é relativamente aceita: pode-se falar "bunda"
entre pessoas de mesmo nível social, mesmo que não sejam íntimas.
A variação "bumbum" é mais tolerada, devido à
evidente infantilização do falar. O sinônimo educado para
"bunda" e "bumbum" é nádegas. Pode-se falar
"traseiro" também.
Vamos aos fatos da nossa cultura:
1) Dizem que os americanos são admiradores de seios (peitos, no popular)
grandes. Parece que os italianos também, ou não?
Já os brasileiros são tidos como admiradores de bundas grandes.
Isto é uma herança dos portugueses, que mais que admiradores,
fica(va)m até hipnotizados.
2) Uns poucos doentes sabem que "bundo" é a denominação de uma etnia africana, das muitas que para cá vieram escravizadas. Esta etnia se caracteriza(va) por ter as nádegas muito, muito avantajadas. Muito mesmo!
3) Os portugueses ao comprar escravas, preferiam as bundas (mulheres da etnia bundo). No mercado de escravos e escravas, ao propor um negócio eles exclamavam: "Eu quero aquela bunda"! Nossa, como eles estavam sendo sinceros.
4) Diferentemente dos ingleses que não se misturavam com negros e habitantes locais (isto até hoje), os portugueses se miscigenaram fortemente com os negros e os índios aqui no Brasil, gerando esta raça de coração grande e que aceita a todos sem preconceitos.
5) Na verdade, como somos humanos, temos um certo preconceito sim, mas que não termina em violência, agressões, segregação e coisas do tipo. No máximo, fazemos piadas. As minorias precisam ter uma grande dose de paciência para agüentar a gozação. Mas é só isso.
Há uma expressão bastante usada por nós, que pode ser ouvida assim: "O Zé ficou (ou está) fulo de raiva." Ou assim: "O Zé ficou (ou está) fulo..." Vamos aos fatos da língua:
1) As pessoas normais entendem "fulo" apenas como uma palavra que dá uma certa ênfase ao estado de raiva. Lamentável...
2) Pouquíssimos de nós interpreta "fulo" como uma descrição de côr, ou seja: preto empalidecido ou preto acinzentado.
3) Uns poucos doentes sabem que "fulo" é a denominação
de uma etnia africana, das muitas que para cá vieram escravizadas. Esta
etnia se caracteriza(va) por ter uma cor negra meio pálida ou acinzentada.
Daí a expressão que remonta a mais de 2 séculos e ainda
hoje é usada no mesmo contexto, porém com sua significação
já tão despida do conteúdo original.
Se procurarmos no dicionário, veremos que o significado desta palavra é "o dia imediatamente anterior a". Certo, mas está errado. Eu me explico: é que este sentido errado, de tanto ser repetido acabou sendo aceito.
Foi assim que aconteceu. Na época em que a Bíblia somente era lida em latim, ouvia-se a passagem que dizia que na véspera Jesus teia ceado com os apóstolos, e como a palavra véspera era desconhecida ou de tradução tortuosa, os menos letrados puseram-se a tentar solucionar o enigma. Como no dia seguinte Jesus foi crucificado, eles imaginaram que véspera significava "o dia imediatamente anterior a". O engraçado é que esta definição errada "pegou".
Mas, afinal, o que significa então a palavra véspera? Simples. Naqueles tempos as horas não podiam ser contadas com muita precisão, de modo que eram agrupadas de 3 em 3. O dia era então assim dividido: de 0 às 3 da madrugada era o "galicínio" (pois o galo canta nesta hora); de 3 às 6 da madrugada era o "matutino"; de 6 às 9 manhã era a "prima" (primeira hora de trabalho); de 9 às 12 horas era "tercia" (terceira hora de trabalho); de 12 às 15 horas era a "sesta" (sexta hora de trabalho e de uma soneca); de 15 às 18 horas era a "nona"; de 18 às 21 horas era a "vespera" (quando aparece a estrela Vésper) e finalmente de 21 às 24 horas era a meia-noite. O texto bíblico simplesmente informa que Jesus ceou na hora da ceia mesmo, ou seja, entre 18 e 21 horas...
Agora um "causo". Temos por estas bandas de Minas Gerais, onde rola uma conversa simples e amiga, bons contadores de estórias (não sei se vocês por aí estão a par da diferença entre estória e história). Estórias assim curtinhas são casos, que no linguajar da homem do campo, vira "causo". Vou tentar contar um bem rápido e que achei interessante.
Um dia, durante o horário de trabalho, vi a telefonista quase ter um colapso, quebrar a ponta do lápis várias vezes, e discutir com um cliente. Como eu estava muito ocupado, no momento apenas acompanhei meio distante o assunto, e vi que a telefonista chamou uma colega para ajudar com o telefonema confuso. A confusão aumentou, de modo que o gerente acabou vindo ver o que ocorria, no que foi seguido pelo seu assessor e até eu acabei entrando na bagunça.
Tratava-se de copiar o nome do cliente, que afinal era muito simples: Joaquim, como tantos. Um pequeno detalhe, porém: com "k". Imediatamente a telefonista alterou o nome para "Joakim". Então ela perguntou o sobrenome do cliente, que respondeu: Kin Concá (um sobrenome incomum para nós).
Daí começou a confusão: ela disse que já tinha entendido que o "quim" final do nome se escrevia com ka. Não, senhorita, o cliente era da família "Kim" (com ka e eme). Mas cuidado, o "Joaquim" é com ene. Ela pensou que o Joaquim era normal (com Q) e "concá" era apenas o sobrenome. Ok, disse a telefonista, então seu nome completo é Joakim Kim de quê? Concá, respondeu o cliente. E explicou: escrito todo com cê...
Para não alongar muito o "causo", deixo para você imaginar toda a sequência de desentendimentos que houve até se chegar ao resultado correto: Joakin Kim Concá. Bem, por escrito este "causo" parece bem mais simples de ser resolvido, afinal você está vendo como se escreve o tal nome. Por telefone, parou o expediente.
Eis um potencial problema de comunicação. Esta palavra tem três significados, sendo que um deles é o problemático.
Meia é o acessório que calçamos nos pés e que os portugueses estranhamente (uma pequena provocação) chamam de "peúgas". No Brasil, até onde sei, a palavra "peúgas" não existe com nenhum significado.
Meia também pode significar "metade de alguma coisa". Podemos dizer, por exemplo: "meia colher de farinha".
Agora, o problema. O que vejo acontecer com alguns estrangeiros que falam já um pouco de português a ponto de se aventurarem a uma comunicação ao telefone, é que em dado momento, quando recebem um número para anotar, podem ouvir algo assim: tres, meia, dois, quatro, ... e tentam entender o que o inesperado "meia" está fazendo ali. É que o "meia" substitui a expressão "meia dúzia", apenas o prosaico seis! Só isso...
Esta palavrinha significa: "onde está?"
Uma mãe pode perguntar para sua filha: "Cadê seu irmão?"
Pessoas menos estudadas podem dizer: "Quédi seu irmão?"
Esta segunda forma não é encontrada nos dicionários, embora
bastante comum.
Sua origem é simples. Inicialmente falava-se: "Que é feito
de seu irmão?"
Através de contrações e de elisões esta palavra
chegou à sua forma atual.
Há até um site de buscas com este nome.
Sabemos que o latim gerou diversas línguas, entre elas o italiano e o português. Mas quando isto ocorreu para cada uma destas duas línguas? Quando cada uma delas se ramificou do latim e começou a ser uma língua independente? O cálculo é fácil. Só precisamos saber que a cada 700 anos, 30% das palavras de uma língua são modificadas.
O latim não sofreu alterações nos períodos mais
recentes, pois não foi mais utilizado, portanto podemos tomá-lo
como padrão.
Já o português e o italiano, nos seus primeiros 700 anos de independência
sofreram 30% de alterações, restando 70% de palavras inalteradas.
Mais 700 anos e dos 70% que sobraram, 30% foram alterados. 30% de 70 são
21. Sendo assim, após 1400 anos teriam sido alteradas 30% mais 21%, ou
seja, 51% das palavras, restando apenas 49% de palavras inalteradas.
Vamos analisar mais 700 anos. Dos 49% que sobraram, 30% teriam sido alterados.
30% de 49 são cerca de 15. Sendo assim, após 2100 anos teriam
sido alteradas 51% mais 15%, ou seja, 66% das palavras, restando apenas 33%
de palavras inalteradas. É, só ficou um terço do original...
Agora é só comparar a base vocabular dos dois idiomas com o latim e ver quanto restou inalterado em cada um para estimar o tempo decorrido desde a separação...
Uma vez ouvi uma estorinha assim: há muitos séculos atrás, quando na Europa ainda não se tinham dividido as línguas, havia uma palavra cujo significado era "ausência de côr" e seu som era algo parecido com "blãc" (nasalisado). Isto mais ao sul do continente, pois mais ao norte o som era aberto, algo parecido com "blác".
Pois bem, nas linguas latinas, faladas mais ao sul do continente, este som se tornou o "blanc" dos franceses, o "branco" dos portugueses, o "blanco" dos espanhóis, o "bianco" dos italianos, etc. Enquanto isto, ao norte, nas línguas saxônicas, o mesmo som falado de maneira aberta gerou o "black" dos ingleses.
Afinal, é branco ou preto?!
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